24.8.15

Intrusos



Entraram sem permissão
Apossaram-se dos meus pertences
Eram,são meus,só meus

Permissão de quem?
Percorreram as minhas ruas
Vasculharam a minha casa

Vazio...só vazio...

Voltarão um dia?

Se o fizerem
morrerei.
morrerei.
morrerei.


1999/2000


23.8.15

Seja sagrada entre vós,Juízes,esta palavra,Poeta


Faço então da Poesia,Voz
de palavras indecifráveis,
de Mundos
Crimes
Riso
Solidão
Tomo-a então pelos braços
e faço-a gritar-me ao céu
para que saibam que existo
e não me deixem morrer
entre linhas.

João Silveira

Fotografia (à minha Mãe - eterna Poetisa)

Um rosto
que se fecha
em quase lágrima.
Nos olhos
o sentir apertado
de quem ama o Mundo
como que a um filho
que cresceu demasiado
e esqueceu.
Há um qualquer brilho,
que em fumo ténue
rodeia a pele,
rodopiando
em espirais de contratempo.
No explodir branco
vê-se que a Alma
dançava em seu redor
ficando gravada
no brilho cego
da fotografia.

Vejo-a conversar
e aninhar-se
o melhor possível
no dias.
Vejo-a agora
como os outros a vêem
mas sei-lhe algo mais,
muito maior,
mais profundo
e delicadamente impronunciável.
Olho a fotografia
e sei o momento
em que transbordou de si
para o peito
os olhos
e vozes
e cicatrizes
dos Outros.
Sei o momento
em que alcançou universos
e os acolheu em si.

Poetisa
no silêncio
e nos gestos.

João Silveira  ( sem data)