23.1.22

Podia dizer que estes últimos anos têm sido dos mais introspectivos que tive em toda a minha vida.

A minha própria companhia, e tão somente ela, têm feito dos meus dias e horas, o reviver de uma vida ao lado de quem amei e amo durante mais de quarenta anos. Esta quase década que vivi entre a doença de Alzheimer de que o Luís sofreu e a partida dele, fizeram com que sentisse que aos poucos, também eu ,fui e vou partindo sem dramatismo mas com certezas, de que a vida está a ser vivida sem nenhuma expectativa nem sonhos, que muito de mim foi com o Luís e os dias vão passando até à hora que irei ter com ele. E como se não bastasse, eis que aparece um vírus que torna tudo ainda mais difícil. Se a vontade de sair, de viver os dias menos sós era pouca juntou-se o receio. É verdade, todos passámos a viver com o receio de ficar infectados ou contagiar algum parente ou amigo. E muito mais nós, os mais velhos, que já temos ou sempre tivemos alguns problemas de saúde ainda mais pois isso torna-nos vulneráveis ao vírus. Então, nestes tempos de confinamento, começamos ainda a dar mais valor ao que significa a palavra Liberdade. Porque sentimos que a falta dela, a liberdade de podermos estar onde quisermos, de estar com quem quisermos, de fazer o que nos apetecer, está condicionada por um vírus que nos tem presos em casa, sem falar com a nossa família directamente a não ser por telefones, sem abraçar, sem beijar os nossos, a trabalhar a partir de casa ou mesmo a não poder ir trabalhar. Tudo isto e muito mais que se passa no nosso novo dia a dia, faz-me pensar em tempos de antigamente, em que liberdade era algo que não existia. Como era a vida nesse tempo. Só mesmo quem viveu essa época sabe como tudo era diferente e triste  e com sofrimento para muita gente.                                                  Então dentro uma semana temos eleições. Talvez seja bom pensarmos nesta palavra LIBERDADE e não façamos nada para a perder. Talvez seja bom irmos votar em vez de refilar " está tudo igual" porque não está, de dizermos " não vou porque não me interessa política" porque só essas palavras já tornam a vossa posição política, dizer " não confio em ninguém", porque temos de acreditar, pelos nossos mais novos e fazer algo para que a vida deles seja melhor, porque temos que saber escolher se queremos voltar a tempos passados em que os nossos pais eram proibidos de mostrarem a sua opinião e se o fizessem, talvez nunca mais os víssemos. Porque por muito interessantes que sejam os motivos que nos levam a não querer ir votar não o fazer pode ser muito dramático e prejudicial para continuarmos a ter, pelo menos, a Liberdade de nos expressarmos de qualquer modo e em qualquer momento.         




13.5.21

Solta-se uma bandeira branca quando se procura a paz e a absoluta serenidade, descansa-se então os ombros carregados do mundo.                                                                                                                          Inspira-se a brisa de Outono e, fechando os olhos deixa-se a alma ir até junto de quem já partiu mas  que continuamos a amar. Alcança-se assim a paz que precisamos numa noite de céu azul .

                                                                                                                        

9.1.21

Quando ainda éramos vivos e os nossos caminhos se cruzaram,

prometemos viver entre sonhos e abraços. 

Não pensámos que a vida (entre maldades e torturas),     

quisesse destruir esse mundo que era nosso.

E assim prolongámos os abraços e percorremos caminhos,

mesmo que o cansaço doesse, mesmo que uma lágrima surgisse,

continuávamos a acreditar que entre sonhos e abraços haveríamos 

de viver até o mundo acabar.


                                   

31.12.18

"Que o caminho venha ao teu encontro, que o vento sopre nos teus ombros. Que o sol brilhe no teu rosto sem o ferir e as chuvas caiam serenas nos teus campos. E até que de novo eu te veja, Deus te guarde em cada dia na palma da sua mão." antiga benção Irlandesa citada por Tolentino Mendonça 

24.11.17

Junto à janela,sentada numa velha cadeira de baloiçar,oferecida num dia do seu aniversário há já muitos anos,olhava em redor,e os seus olhos já cansados fixaram-se na mesa onde tantas vezes tinha passado horas sem fim a escrever,sempre à luz do candeeiro de porcelana que pertencera à sua avó ou bisavó,perdera-se na história que tantas vezes ouvira da boca de sua mãe.Levantou-se sentindo as pernas trémulas,sem força, para darem uns pequenos passos sem a ajuda irritante da bendita bengala.Encaminhou-se devagar para junto da mesa e puxando um pequeno banco sentou-se.Relembrava a sua longa vida cheia de aventuras e desventuras. Agora recordava todos os tempos loucos que vivera,as alegrias próprias da juventude,a consciência da idade adulta,as crises da meia idade,as tristezas que depois vieram com o passar dos anos e a velhice e, principalmente a perda de tanta gente tão querida.A vida tinha-se tornado numa espera pela ida ao encontro dos que amava.Sentia que o tempo passava depressa demais para ainda poder fazer aquilo que queria,oitenta e muitos anos já não a ajudavam,pelo contrário só a irritavam mais aquela bendita bengala que não a podia largar,era pior do que ter um guarda costas,sempre atrás dela ou melhor à sua frente.Tinha dias em que já não se importava se fazia sol ou se chovia copiosamente mas outros apetecia-lhe ainda sair por essas ruas e observar tudo e todos,e então saía com toda a calma do mundo,como se fosse a primeira ou a última vez que o fazia.Nessas horas podia dizer que era feliz,ainda era feliz.Mal chegava a casa sentava-se na mesa do seu quarto e à luz do candeeiro,o tal de porcelana,escrevia alguns apontamentos como se fosse preparar um livro.Começar tudo de novo,deixar sair tudo o que lhe vinha à alma,ao cérebro,com paixão,alegria,enfim,deixar que a inspiração levasse as suas mãos,já um pouco trémulas,até à também velha máquina de escrever,companheira de tantas horas,tantos dias e noites,uma vida inteira.Olhou para as fotografias que estavam ali,bem perto dela,com tantos rostos amados e sorriu-lhes com um olhar malicioso.Não,ainda não era agora que ía ter com eles,ainda tinha muito para fazer.Só precisava de descansar um pouco e estaria pronta para mais um novo dia.Levantou-se altiva nos seus oitenta e muitos anos,dirigiu-se até à porta do quarto e chamando por Amélia,sua companhia há muito tempo ,pediu com voz doce que lhe trouxesse o chá com mel e limão,bebida que sempre tomava antes de dormir.

6.9.17

Meu Amor




Eu quero ter uma lembrança da tua presença,
já que na minha vida fostes o único que nela habitou.

Quero ficar com o teu riso na memória e o brilho dos teus olhos.
Quero ficar com o teu cheiro e o som da tua voz.
Quero o amor que sempre nos uniu.
Quero a tua mão na minha como sempre estivemos.
Quero lembrar das músicas que cantámos e dos passeios que demos
Quero os fins de tarde.
Quero o teu abraço,o teu beijo terno.

Vou ficar contigo até ao fim da minha vida,
até ao fim das nossas vidas.

3.7.17




Estou parada dentro de mim.
Fico à espera que o dia passe,que a noite chegue e amanheça.
Que o dia acabe,a noite comece e outro dia nasça.
E assim estão os meus dias,as noites e os outros dias que hão-de vir.